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MODERNIDADE, CORPO E DISCIPLINA
MODERNIDADE, CORPO E DISCIPLINA



A modernidade caracteriza-se pela descontinuidade, fragmentação, ruptura e deslocamento do sujeito de estruturas tradicionais Giddens (1991), Harvey (1992), e Laclau (1990). A era moderna inicia-se com a superação da ordem medieval, provocando alterações em praticamente todas as dimensões da vida humana. A modernidade, enquanto projeto de civilização, assenta-se num conjunto de valores como racionalidade, individualismo, autonomia, desencantamento do mundo e a universalidade. Valores estes apresentados como universais. A explicação das relações sociais travadas na modernidade é o propósito maior da sociologia como ciência.

    É importante frisar que os clássicos da sociologia trataram a modernidade, em determinados aspectos, de modo semelhante, entendendo-a como época nova, oposta ao passado, caracterizada por rupturas nas diversas esferas da vida social. Trata-se de momento de expansão social do saber e dos domínios sobre a natureza, entre os homens e as possibilidades de progresso. Nesta perspectiva, a modernidade é antinatural, antitradicional, antimetafísica, tendo como polaridades básicas: social/natural, moderno/tradicional, racional/emocional, científico/metafísico. Associação entre universalismo e individualismo como tendência moderna: este é o entendimento comum entre os clássicos.

    Na sociologia clássica, o mundo moderno é marcado pela sociedade dos indivíduos. Os homens têm interesses, ações liberadas, quebrando barreiras, mas criando outras, como o Estado de Direito (Durkheim), Burocracia (Weber) circuito do capital (Marx). civilização moderna como uma cultura racionalista, tendo como pilares o individualismo (o homem moderno), universalismo (o contexto moderno como inovação histórica) e cognitivismo (a ciência moderna). É necessário ressalta que as concepções sobre a modernidade a racionalidade são diferentes. Em Marx percebe-se uma crítica ao caráter e uso burguês da ciência e sua conseqüente transformação em força produtiva. Weber preocupou-se em sublinhar a singularidade da cultura Ocidental, sendo a racionalização o componente chave desta cultura. Em Durkheim, verificamos a ênfase da dimensão coletivista da racionalidade.

    A individualidade do homem como condição para a universalidade. Ruptura com a tradição, ensejando novas bases de intercâmbio dos indivíduos. É, portanto, o momento no qual culmina o processo de separação entre o homem e natureza. Marca o advento de determinado tipo de interesse pelo corpo.


Poder disciplinar, corpo, formação do indivíduo moderno e a produção social do jogador de futebol

    Em Vigiar e Punir Foucault (1987) elabora uma genealogia do direito penal racionalizado e da execução penal cientificamente humanizada. Sua análise centra-se no surgimento do regime moderno de poder, o qual busca o afinamento e a adaptação aos instrumentos que vigiam a identidade, os gestos, as atividades e os comportamentos cotidianos dos indivíduos. O poder é imposto por meio de processos de aprendizagem prático-moral, contribuindo com o adestramento dos indivíduos através da socialização.

    As instituições sociais modernas: escola, fábrica, hospital, polícia disciplinam o indivíduo, manipulam e controlam os corpos. A ordem social sustenta-se na sua capacidade de comando e direção permitida pelo conjunto de instituições e organizações administrativas. A manipulação ocorre através do disciplinamento por meio das instituições sociais. O esporte moderno pode ser considerado como instituição disciplinadora dos corpos. Esta concepção integra a obra de Muller, Dieguez e Gabauer (Bracht, 1997:46). O que nos possibilita investigar o futebol como instituição disciplinadora de corpos.

    A análise de Foucault acerca do poder preocupa-se em captá-lo em suas extremidades, capilar, ramificações, manifesto nas instituições locais e regionais, examinado sua materialização. O poder como algo que circula, funciona em cadeia e redes (Foucault, 2001:182-3). O poder passa sobre os indivíduos, fazendo com que os gestos, corpos, desejos e discursos funcionem e sejam identificados como indivíduos. O indivíduo é um efeito do poder, sendo criação e veículo de transmissão.

    A idéia de poder como rede, micro, estendendo-se ao conjunto de esferas sociais pode ser aplicada à análise do futebol, especialmente as relações de controle social, condicionamentos físicos, técnicos e táticos, ordenamentos e hierarquia das posições. O técnico revela seu poder por meio dos esquemas, os atletas procuram sempre “escutar e fazer o que o técnico manda” (D.Rincón, 20, atleta). Trata-se de um poder disciplinar em forma de técnicas, dispositivos, métodos de controle do corpo e dos atos dos indivíduos, almejando à docilidade e utilidade. Os treinamentos físicos, táticos e técnicos manipulam o corpo, na tentativa de alcançar o padrão ideal de jogador, resistente e habilidoso. Trata-se de colocar os jogadores “em forma”, preparados para jogar.

    A disciplina produz maneiras de agir e comportamentos, fabrica o homem necessário a determinadas funções. O poder disciplinar trabalha o corpo no sentido de torna-lo força de trabalho, capaz de proporcionar os melhores rendimentos possíveis. O jogador de futebol é uma força de trabalho produto do disciplinamento, treinamentos e do desenvolvimento de seu potencial genético (Carravetta, 2001:19).

A disciplina fabrica assim corpos submissos e exercitados, corpos dóceis. A disciplina aumenta as forças do corpo (em termos econômicos de utilidade) e diminui essas mesmas forças (em termos políticos de obediência). [...], ela dissocia o poder do corpo; faz dele por um lado uma aptidão, uma capacidade que ela procura aumentar; e inverter por outro lado a energia, a potência que poderia resultar disso, e faz dela uma relação de sujeição estrita (Foucault,1987:127).

    Disciplina como obediência técnica e tática, sendo uma disciplina corporal e moral. O poder disciplinar manifesta-se das seguintes formas: (1) A disciplina é um tipo de organização do espaço. Distribui os corpos em espaços específicos e individuais, classifica-os, conforme determinadas funções. A disciplina constitui um controle do tempo (Machado, 2001:XVII). Horários marcados para as tarefas. O corpo é sujeito ao tempo, busca-se produzir com rapidez e eficácia. O que mais interessa é o desenvolvimento e não o resultado da ação. Nos clubes de futebol existem horários marcados para treinamentos, jogos e atividades recreativas. Tem-se o controle minucioso do corpo e de suas operações, buscando articulação entre corpo e objeto manipulado. Interessa-nos saber como se organiza o espaço entre os jogadores do SC Internacional, na distribuição de funções e o controle que o técnico tem nesse processo. (2) A vigilância como instrumento de controle social usado pelo poder disciplinar. Trata-se do controle discreto, invisível. Por exemplo, o poder vigilante do Panopticon de Bentham (Machado, 2001:XVIII). Este controle sem ser visto pode existir também no clube de futebol. Os atletas em formação reclamam da ausência de vida normal, do excesso de trabalho, treinos de diferentes naturezas e as proibições de sair à noite constituem uma espécie de controle social.

    É neste sentido que a noção de vigilância de Foucault será utilizada para investigar o controle dentro do clube.

    O objetivo político e econômico do poder disciplinar é tornar o corpo humano útil e dócil (Foucault, 2001). O poder disciplinar não é negativo, mas positivo, ele produz o indivíduo moderno, sendo uma técnica de controle social muito eficiente desenvolvida nas sociedades modernas desde o século XIX. Para Foucault (2001:183-4), “[...] o indivíduo não é o outro do poder: é um de seus primeiros efeitos. O indivíduo é um efeito do poder e simultaneamente, ou pelo próprio fato de ser um efeito, é seu centro de transmissão. O poder passa através do indivíduo que ele constituiu”. O poder moderno ao invés de massificar, descaracterizar, ele individualiza e unifica. Numa massa desordenada, o poder faz o indivíduo emergir como alvo, esquadrinhado. O nascimento da prisão não é uma massificação, mas o isolamento celular, total ou parcial, inovação no sistema penitenciário. O nascimento do hospício não destruiu o específico da loucura, ele é produzido como doente mental, individualizado, com relações disciplinares de poder para cuidar do doente.

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